Catarse

Pois é! Foi desta (ou quase) que me livrei, finalmente, das roupas que insistem em ocupar espaço no armário (e na minha vida). Uma porque já está cor-de-burro-quando-foge, mas ERA tão gira e FICAVA tão bem e lembrava aquelas férias; outra porque é do tempo em que éramos dreads, saltávamos ao som de lords of the boards (guano apes), faltávamos às aulas de fisico-química para ir para o café beber Tuborg, fazíamos grandes raves na casa da praia e dormíamos de sacos-cama nas dunas; outra porque é da época em que nos identificávamos imenso com a nossa melhor amiga, que de repente trocou as "vacas" pelo namorado e nunca mais nos falou; outra que nunca nos ficou bem, que afinal não é assim tão gira, mas que custou os olhos da cara e nesse dia decidimos fazer birra até a comprar; outras com tantas histórias e algumas mais sem história nenhuma em particular, apenas me acompanharam durante vários anos e ganharam lugar cativo no top 10 dos mais vestidos (aqueles que se vestem, lavam e muitas vezes se vestem de novo, sem sequer ver o armário e por isso já não têm uma cor definida...).

E agora a questão é: o que fazer com tudo isto? O lógico seria dar a quem precisa... mas isso é uma história muito complicada pois fiquei a saber que, se não tiver aspecto de novinho em folha ou se não for da colecção deste ano, vai direitinho para o lixo. Claro, faz todo o sentido! Quer ser caridoso? Vá à Mango fazer umas comprinhas para os pobres!

Afinal ser pobre é que está a dar! Nós, o mais-ou-menos, quando conseguimos um crédito habitação para comprar a nossa caixinha de fósforos, passamos o resto da vida a ver a prestação aumentar, a pagar a conta da luz, água, gás, tv cabo, net cabo, condomínio, supermercado, farmácia, etc, e a ginasticar para o conseguir a tempo e horas. O pobre não... tadito, é pobre! Vamos é dar-lhe uma casa! Nós, o mais-ou-menos, compramos uns trapitos na Zara, onde há T-shirts a 2,95€, para ver se poupamos, e vamos reciclando algumas coisas que temos em casa. O pobre n... é só esperar pelo final da estação e ir pedinchar para a Cruz Vermelha, que tem acordos com certas lojas et voilà! O pobre veste Quebramar, para não se sentir marginalizado com roupas que já foram usadas por outras pessoas...