Monday, October 16, 2006
English man in New York
Monday, October 09, 2006
Metamorfose de Narciso
À esquerda desse grupo está Narciso, ajoelhado, olhando para o fundo do lago. No entanto, ironicamente, a água é escura demais para refletir sua imagem. O seu rosto, que é exactamente a causa da vaidade, da auto-absorção e auto-reflexão, está oculto. Quem observa o quadro vê apenas o topo da cabeça e seu cabelo. O repouso da cabeça de Narciso sobre o seu joelho obscurece para ele sua própria imagem, e o facto de que não podemos ver a sua face sugere que o mito, e talvez a vaidade, estejam mortos. No entanto, estão manifestados de uma outra forma, através da flor que leva o seu nome.
À direita de Narciso está a forma de uma mão a segurar um ovo, do qual nasce a flor. Esta imagem adopta exactamente a mesma forma e postura do seu corpo. A racha no ovo combina com a sombra do cabelo de Narciso, e também com a fissura na unha do polegar, dando à mão um caráter petrificado, surreal, mais adequado ao estilo de Dalí do que seria uma mão de aparência realista. Podemos aqui fazer um paralelo do simbolismo que a unha tem numa técnica oriental chamada Leitura Corporal, na qual cada parte e sintoma do corpo tem uma correspondência emocional. Segundo essa ideia, a unha corresponde à autoconfiança do indivíduo, podendo ser considerada mais forte ou mais frágil, dependendo da constituição física. Neste caso, e por ser o polegar simbolicamente o dedo da auto-afirmação, a racha pintada por Dalí pode ser lida como a quebra e a morte da vaidade. Além disso, a racha pode ser ainda ligada à maneira com que Dalí frequentemente se referia à sua personalidade: metade uma pessoa ordinária, metade um génio, o que reforça a ideia de que o quadro possa ser um auto-retrato.
O ovo, que tem forte simbologia em muitas culturas, geralmente representa o nascimento do mundo, é o poder criador da luz. É a renovação periódica da natureza, a ressurreição, a casa que protege e aprisiona. Segundo a Alquimia, o ovo é o germe de uma vida espiritual: o sujeito e o lugar de todas as transmutações - neste caso, a própria metamorfose de Narciso. Está usualmente ligado também ao umbigo, ao centro de si mesmo e do mundo e, estando representado como a cabeça de Narciso, é a própria fonte de sua vaidade, que o mata, mas também gera a vida. A imagem deste ovo é repetida várias vezes noutras pinturas de Dalí. Ele dizia que, nesta obra, o ovo que dava origem à flor fora inspirado na tal expressão catalã “ele tem um bulbo na cabeça”.
A flor de Narciso, cuja etimologia é narke, de onde vem narcose, está usualmente ligada a cultos infernais. Simboliza o entorpecimento da morte, mas uma morte que não seja talvez senão o sono. Cresce na primavera, o que a liga ao símbolo das águas, à fecundidade. Encerra, assim, a ambivalência morte-renascimento. É como o Narciso de Dalí, que morre, mas dá origem à vida. A água serve de espelho, mas um espelho aberto sobre as profundezas do eu. Da imagem, pode-se apreender também que a mão que dá à luz à vida, por meio do nascimento da flor pelo ovo, está deliberadamente localizada fora da água, que é geralmente associada à vida. Seria esta uma inversão de papéis entre aquilo que simboliza a vida e o que representa a morte, que é a terra árida sobre a qual a mão assenta. Curiosamente, a flor de Narciso não é em si mesma um exemplo radiante de flor mas, em vez disso, uma imagem desgastada, quase uma sombra da haste erecta que quebra a casca do ovo.
A mesma forma, que repete os contornos de Narciso, ocorre novamente no topo da montanha, coberta de neve. A imagem está a derreter, o que nos remete mais uma vez à ideia da morte de Narciso, principalmente pelo facto de estar directamente sobre a figura do mito, noutra circunstância: a imagem de um belo rapaz, provavelmente o próprio Narciso, que permanece em pé, sobre um pedestal, admirando seu corpo. Abaixo dele há um piso quadriculado, como um tabuleiro de xadrez. Não há outros jogadores no tabuleiro, o que indica que eles podem ter sido colocados numa escala abaixo da de Narciso, demonstrando sua superioridade hierárquica. Ele é peça do jogo, e joga sozinho. O tabuleiro de xadrez, simbolicamente, é uma representação da alternância entre a sombra e a luz, o yin e o yang, divisão presente também no psiquismo humano. É a aceitação e o domínio da alternância branca e negra, entusiasmo e controle, exaltação e contenção de desejos. Essa repetição de imagens, recorrente na obra de Dalí, foi usada por ele nesta pintura para demonstrar a sua famosa técnica de imagem dupla, na qual as figuras são pintadas na tela de maneira a que, vendo a primeira, o observador não consiga compreender na sua totalidade o que está a ser mostrado. Essa imagem dupla é complementada também pelo reflexo de Narciso na água.
À direita do quadro, em primeiro plano, existe um cão que rasga uma carne, quase uma carcaça, talvez representando a morte de algo que algum dia já foi belo. Formigas, que são um tema recorrente nas pinturas de Dalí, escalam a mão petrificada, representando a deterioração, a decomposição e, novamente, a morte. Aglomeram-se na base e seguem seu caminho em direção à flor de Narciso, ameaçando a sua existência.
O fundo do quadro compreende rochas similares às retratadas por Leonardo Da Vinci nas suas pinturas, tais como Mona Lisa e A Virgem das Rochas. Elas também lembram os rochedos da costa catalã, terra natal de Dalí, imagens que invadem praticamente todas as suas obras. É notável também a presença de nuvens pesadas, um céu que anuncia uma tempestade: novamente a ideia da morte é retratada, da mesma forma que escureceu o céu na ocasião da morte de Jesus Cristo.
Há quem discuta se a metamorfose do título está em Narciso que se transforma na imagem da mão com o ovo, ou o contrário. A primeira ideia é mais facilmente assimilada através da simbologia das imagens. Narciso é apresentado como um objecto inanimado, sem vida, como uma forma crisálida. A mão tornou-se, além da forma de Narciso morto, uma mão que agora segura uma nova vida na forma de uma flor. O próprio Dalí disse que esta pintura tratava sobre a morte e petrificação de Narciso.
Dalí acreditava que, ao cair na armadilha de apaixonar-se pela sua própria imagem, Narciso estava a estudar seu reflexo assim como um artista faz quando está a pintar o seu auto-retrato. Esta é uma história de profundo auto-conhecimento. Segundo a Psicanálise, amplamente estudada e utilizada pelos surrealistas nas suas obras, o narcisismo nem sempre é neurótico: tem também um papel positivo na obra estética. Dalí funde a visão tradicional do mito com a interpretação da Psicanálise freudiana.
Com tons terrosos e áridos, que remetem à morte, Dalí retratou a morte da vaidade, mas uma morte que faz brotar o novo, o belo. Vaidoso como poucos homens públicos de que se tem notícia, e odiado pelos seus contemporâneos exactamente por causa disso, Dalí pode ter retratado nesta obra a morte de seu próprio ego. No entanto, essa morte é apenas aparente, porque é da mente desse ego que nasce a vida, que surge a criação. E foi graças a essa egolatria exacerbada que, em vez de se recolher ao próprio talento, como tantos artistas o fazem, Dalí conseguiu mostrar-se ao mundo dessa maneira gratamente irreversível, quase como uma missão de dividir conosco, pobres mortais, um pouco de sua genialidade.
Narciso
Sunday, October 08, 2006
Sabiam?
a unidade de peso comum para os espanhóis na época era a arroba, cujo "a" inicial lembra a forma do símbolo;
os carregamentos desembarcados vinham frequentemente em fardos de uma arroba. Dessa forma, os espanhóis interpretavam aquele mesmo registo de "10@£3" assim: "dez arrobas a 3 libras cada uma". Então o símbolo @ passou a ser usado pelos espanhóis para significar arroba.Arroba veio do árabe ar-ruba, que significa "a quarta parte" : arroba (15 kg em números redondos) correspondia a Œ de outra medida de origem árabe (quintar), o quintal (58,75 kg). As máquinas de escrever, na sua forma definitiva, começaram a ser comercializadas em 1874, nos Estados Unidos ( Mark Twain foi o primeiro autor a apresentar os seus originais dactilografados). O teclado tinha o símbolo "@", que sobreviveu até aos teclados dos computadores. Em 1972, ao desenvolver o primeiro programa de correio electrónico (e-mail), Roy Tomlinson aproveitou o símbolo "@" (at), disponível no teclado, e utilizou-o entre o nome do usuário e o nome do provedor. Assim "Fulano@PX" passou a significar "Fulano no provedor X". Em diversos idiomas, o símbolo "@" ficou com o nome de alguma coisa parecida com a sua forma: em italiano chiocciola (caracol), em sueco snabel (tromba de elefante), em holandês, apestaart (rabo de macaco); em outros idiomas, tem o nome de um doce em forma circular: shtrudel, em Israel, strudel, na Áustria;
Imperatriz
Saturday, October 07, 2006
Ensaio Sobre A Cegueira
Evangelho Segundo Jesus Cristo
Jangada de Pedra
Cisnes Selvagens
Sunday, October 01, 2006
Dia Mundial da Música
O selo postal português
Lendas de Portugal
Lenda da moura Cassima
Mas este não conseguia viver feliz ao pensar na pouca sorte das suas pobres filhas. Até que num certo dia apareceu em Tânger um carregamento de escravos vindos de Portugal onde se encontrava um homem de Loulé, que o governador não hesitou em comprar.
Já no palacete, o mouro perguntou ao carpinteiro se ele não gostaria de voltar para perto da sua família. Este, sem perder um segundo, disse que sim. Logo o mouro pegou num alguidar cheio de água dizendo ao louletano para ele se colocar de costas para o alguidar e saltar para o outro lado, prevenindo-o que se caísse dentro da água ir-se-ia afogar no oceano. Deu-lhe 3 pães (pães esses que continham a chave para o desencantamento das mouras) e disse-lhe o que fazer com eles a fim de libertar as suas lindas filhas do encantamento a que foram sujeitas. O carpinteiro salta e como num passe de mágica chega a sua casa, abraçando a sua mulher. Logo de seguida ele vai até um canto da casa e esconde os 3 pães dentro de um baú.
Passado algum tempo mulher descobre os pães e fica desconfiada por eles estarem escondidos. Então, pega numa faca a fim de ver se há alguma coisa dentro deles, espetando-a. De imediato ela ouve um grito e as suas mãos enchem-se de sangue vindo do interior do pão.
Na véspera de S. João (dia para o encantamento ser quebrado) o carpinteiro estava indiferente à animação, pois só pensava em cumprir a promessa por ele feita ao ex-governador. Logo que pôde, pegou nos pães e foi até fonte. Chegando a altura certa este atira o 1º pão para a fonte e grita por Zara, a mais velha das irmãs, e uma figura feminina sobe no espaço e desaparece diante dos seus olhos. Logo de seguida atira o 2º e grita por Lídia; volta a aparece-lhe outra bela rapariga, que desaparece no ar diante dele. Por fim, atira o 3º pão e grita pela filha mais nova do ex-governador, mas nada acontece. Ele volta a gritar por Cassima e uma jovem moura aparece-lhe agarrada ao gargalo da fonte e diz-lhe que não pode sair dali devido à curiosidade da sua esposa. Ele pede-lhe desculpa em nome da sua pobre mulher e a moura diz que a perdoa e que tem uma coisa para ela, pois jamais poderá sair daquela fonte, e atira um cinto bordado a ouro para as mãos do carpinteiro, enquanto desaparece no interior da fonte...
No caminho o Carpinteiro, para ver melhor a beleza do cinto, coloca-o em redor de um tronco de um grande carvalho, mas de imediato a árvore cai por terra, cortada pelo cinto fantástico.
Benzendo-se e rezando, o carpinteiro compreende tudo: Cassima dera-lhe o cinto apenas para se vingar! Sua mulher ficaria cortada ao meio, como o carvalho gigantesco!...
Este correu para casa abraçou a mulher e nessa noite não consegui pregar olho com medo que a moura ali aparecesse, mas isso nunca aconteceu. Tal como a moura Cassima lhe dissera, não mais poderia sair da fonte. Apenas por vezes, segundo se diz - principalmente nas vésperas de S. João - ela consegue agarrar-se ao gargalo da fonte, e mostrar sua beleza, e chorar a sua dor aos que se aventuram por até lá....
Lenda dos Corvos de S. Vicente
Lenda das Três Gémeas
A Moura do Castelo de Tavira
Algôs ou Algoz
Mas outros defendem a pés juntos uma outra versão. Quando a povoação era tão pequena que ainda não tinha nome, os seus habitantes não sabendo como lhe chamar resolveram fazer uma procissão para que Deus lhes desse inspiração. Como a imagem do santo que levavam no andor era do tamanho de um homem, houve uma vereda cujas árvores impediam a respectiva passagem. O dono das árvores opôs-se a que estas fossem cortadas. A discussão instalou-se e o pároco, para evitar confrontos, resolveu cortar a cabeça da imagem do santo para que a procissão prosseguisse. A população enfurecida contra o pároco resolveu chamar àquela povoação Algoz, que quer dizer carrasco, para que a ofensa contra o santo ficasse para sempre registada.
Lenda do Almocreve de Estói
Lenda de Dona Branca ou da Tomada de Silves aos Mouros
Reinava em Silves o inteligente e corajoso rei mouro Ben-Afan que numa noite de tempestade, no intervalo das suas lutas contra os cristãos, teve um sonho extraordinário. Um sonho que começou por ser um pesadelo, com tempestades e vampiros, mas que se tornou numa visão de anjos, música e perfumes e terminou pelo rosto de uma mulher, divinamente bela, com uma cruz ao peito. No dia seguinte, Ben-Afan procurou a fada Alina, sua conselheira, que lhe revelou que tinha sido ela própria a enviar-lhe o sonho e que a sua vida iria mudar. Deu-lhe então dois ramos, um de flor de murta e outro de louro, significando respectivamente o amor e a glória. Consoante os ramos murchassem ou florissem assim o rei deveria seguir as respectivas indicações. Enviou-o ao Mosteiro de Lorvão e disse-lhe que lá o esperava aquela que o amor tinha escolhido para sua companheira: Branca, princesa de Portugal. Para entrar no mosteiro, Ben-Afan disfarçou-se de eremita e o primeiro olhar que trocou com a princesa uniu-os para sempre. O rei mouro voltou ao seu castelo e preparou os seus guerreiros para o rapto da princesa. Branca de Portugal e Ben-Afan viveram a sua paixão sem limites, esquecidos do mundo e do tempo. O ramo de murta mantinha-se viçoso, até que um dia D. Afonso III, pai de Branca, cercou a cidade de Silves e Ben-Afan morreu com glória na batalha que se seguiu. Nas suas mãos foram encontrados um ramo de murta murcho e um ramo de louro viçoso.