Monday, October 16, 2006

English man in New York

Foi assim que me senti ontem na invicta. Uma pessoa deixa de ir lá por uns meses e, de repente, tudo muda! Corri a Sá da Bandeira no mínimo 6788979 vezes para cima e para baixo à procura da paragem do 78, para o Castelo do Queijo e nada. Estaria confusa? Não... afinal agora já não pára ali, vai lá por cima, por causa do metro (foi o que disse um senhor simpático na rua)... Chegada a Serralves (no 207, que também pára lá perto), visitei uma exposição não me lembro de quem porque, sinceramente, não interessa. A obra prima era um lençol azul coberto por umas peças de puzzle, atirados como se alguém os tivesse posto para o lixo, que resumem toda a filosofia artística do autor: o acaso, a aleatoriedade, bla, bla, bla, whiskas saquetas (não consegui ouvir o resto a explicação da guia!)...
Seguidamente, dirigi-me à "porta de entrada" para os jardins... estava fechada! Fui perguntar à recepcionista se o jardim fechava ao domingo. "Ó menina, a entrada já não se efectua por aí há muitos meses! Agora é ali ao pé da loja." Para cúmulo, a exposição na Fundação de Serralves conseguiu ser pior que a do museu... ainda bem que ao domingo é grátis!!

Ars Nova

Serralves, 15 de Outubro de 2006.



Casa Decor 2006 II

Decorreu no Porto, no Edifício Garantia (Rua dos Aliados), de 22 de Setembro a 15 de Outubro.








Monday, October 09, 2006

Metamorfose de Narciso

Falando em Narciso, não poderia deixar de referir um dos meus artistas preferidos: Salvador Dalí. Segundo registros históricos, a inspiração de Dalí para esta pintura veio de uma conversa ouvida por acaso entre dois pescadores, que falavam sobre um homem da região que ficava a admirar-se ao espelho por horas a fio. Um desses pescadores descreveu o vaidoso homem como tendo um “bulbo na cabeça”, expressão coloquial catalã para quem era mentalmente doente. Dalí combinou esta imagem com o mito grego de Narciso para compor a obra.
No centro do quadro de Dalí está um grupo de homens e mulheres nus, dançando em volta de uma poça de’água, destacados do principal objecto da obra. Descrito pelo pintor Dalí como um grupo heterossexual e lascivo, esta imagem dá início a uma expectativa narcisística, através do reflexo dessas pessoas na água. Este grupo tem ligações claras com outros retratados nas pinturas da época Renascentista, influência provavelmente sofrida por Dalí devido à viagem que ele fazia à Itália quando pintou esta obra.

À esquerda desse grupo está Narciso, ajoelhado, olhando para o fundo do lago. No entanto, ironicamente, a água é escura demais para refletir sua imagem. O seu rosto, que é exactamente a causa da vaidade, da auto-absorção e auto-reflexão, está oculto. Quem observa o quadro vê apenas o topo da cabeça e seu cabelo. O repouso da cabeça de Narciso sobre o seu joelho obscurece para ele sua própria imagem, e o facto de que não podemos ver a sua face sugere que o mito, e talvez a vaidade, estejam mortos. No entanto, estão manifestados de uma outra forma, através da flor que leva o seu nome.

À direita de Narciso está a forma de uma mão a segurar um ovo, do qual nasce a flor. Esta imagem adopta exactamente a mesma forma e postura do seu corpo. A racha no ovo combina com a sombra do cabelo de Narciso, e também com a fissura na unha do polegar, dando à mão um caráter petrificado, surreal, mais adequado ao estilo de Dalí do que seria uma mão de aparência realista. Podemos aqui fazer um paralelo do simbolismo que a unha tem numa técnica oriental chamada Leitura Corporal, na qual cada parte e sintoma do corpo tem uma correspondência emocional. Segundo essa ideia, a unha corresponde à autoconfiança do indivíduo, podendo ser considerada mais forte ou mais frágil, dependendo da constituição física. Neste caso, e por ser o polegar simbolicamente o dedo da auto-afirmação, a racha pintada por Dalí pode ser lida como a quebra e a morte da vaidade. Além disso, a racha pode ser ainda ligada à maneira com que Dalí frequentemente se referia à sua personalidade: metade uma pessoa ordinária, metade um génio, o que reforça a ideia de que o quadro possa ser um auto-retrato.

O ovo, que tem forte simbologia em muitas culturas, geralmente representa o nascimento do mundo, é o poder criador da luz. É a renovação periódica da natureza, a ressurreição, a casa que protege e aprisiona. Segundo a Alquimia, o ovo é o germe de uma vida espiritual: o sujeito e o lugar de todas as transmutações - neste caso, a própria metamorfose de Narciso. Está usualmente ligado também ao umbigo, ao centro de si mesmo e do mundo e, estando representado como a cabeça de Narciso, é a própria fonte de sua vaidade, que o mata, mas também gera a vida. A imagem deste ovo é repetida várias vezes noutras pinturas de Dalí. Ele dizia que, nesta obra, o ovo que dava origem à flor fora inspirado na tal expressão catalã “ele tem um bulbo na cabeça”.

A flor de Narciso, cuja etimologia é narke, de onde vem narcose, está usualmente ligada a cultos infernais. Simboliza o entorpecimento da morte, mas uma morte que não seja talvez senão o sono. Cresce na primavera, o que a liga ao símbolo das águas, à fecundidade. Encerra, assim, a ambivalência morte-renascimento. É como o Narciso de Dalí, que morre, mas dá origem à vida. A água serve de espelho, mas um espelho aberto sobre as profundezas do eu. Da imagem, pode-se apreender também que a mão que dá à luz à vida, por meio do nascimento da flor pelo ovo, está deliberadamente localizada fora da água, que é geralmente associada à vida. Seria esta uma inversão de papéis entre aquilo que simboliza a vida e o que representa a morte, que é a terra árida sobre a qual a mão assenta. Curiosamente, a flor de Narciso não é em si mesma um exemplo radiante de flor mas, em vez disso, uma imagem desgastada, quase uma sombra da haste erecta que quebra a casca do ovo.

A mesma forma, que repete os contornos de Narciso, ocorre novamente no topo da montanha, coberta de neve. A imagem está a derreter, o que nos remete mais uma vez à ideia da morte de Narciso, principalmente pelo facto de estar directamente sobre a figura do mito, noutra circunstância: a imagem de um belo rapaz, provavelmente o próprio Narciso, que permanece em pé, sobre um pedestal, admirando seu corpo. Abaixo dele há um piso quadriculado, como um tabuleiro de xadrez. Não há outros jogadores no tabuleiro, o que indica que eles podem ter sido colocados numa escala abaixo da de Narciso, demonstrando sua superioridade hierárquica. Ele é peça do jogo, e joga sozinho. O tabuleiro de xadrez, simbolicamente, é uma representação da alternância entre a sombra e a luz, o yin e o yang, divisão presente também no psiquismo humano. É a aceitação e o domínio da alternância branca e negra, entusiasmo e controle, exaltação e contenção de desejos. Essa repetição de imagens, recorrente na obra de Dalí, foi usada por ele nesta pintura para demonstrar a sua famosa técnica de imagem dupla, na qual as figuras são pintadas na tela de maneira a que, vendo a primeira, o observador não consiga compreender na sua totalidade o que está a ser mostrado. Essa imagem dupla é complementada também pelo reflexo de Narciso na água.

À direita do quadro, em primeiro plano, existe um cão que rasga uma carne, quase uma carcaça, talvez representando a morte de algo que algum dia já foi belo. Formigas, que são um tema recorrente nas pinturas de Dalí, escalam a mão petrificada, representando a deterioração, a decomposição e, novamente, a morte. Aglomeram-se na base e seguem seu caminho em direção à flor de Narciso, ameaçando a sua existência.

O fundo do quadro compreende rochas similares às retratadas por Leonardo Da Vinci nas suas pinturas, tais como Mona Lisa e A Virgem das Rochas. Elas também lembram os rochedos da costa catalã, terra natal de Dalí, imagens que invadem praticamente todas as suas obras. É notável também a presença de nuvens pesadas, um céu que anuncia uma tempestade: novamente a ideia da morte é retratada, da mesma forma que escureceu o céu na ocasião da morte de Jesus Cristo.

Há quem discuta se a metamorfose do título está em Narciso que se transforma na imagem da mão com o ovo, ou o contrário. A primeira ideia é mais facilmente assimilada através da simbologia das imagens. Narciso é apresentado como um objecto inanimado, sem vida, como uma forma crisálida. A mão tornou-se, além da forma de Narciso morto, uma mão que agora segura uma nova vida na forma de uma flor. O próprio Dalí disse que esta pintura tratava sobre a morte e petrificação de Narciso.

Dalí acreditava que, ao cair na armadilha de apaixonar-se pela sua própria imagem, Narciso estava a estudar seu reflexo assim como um artista faz quando está a pintar o seu auto-retrato. Esta é uma história de profundo auto-conhecimento. Segundo a Psicanálise, amplamente estudada e utilizada pelos surrealistas nas suas obras, o narcisismo nem sempre é neurótico: tem também um papel positivo na obra estética. Dalí funde a visão tradicional do mito com a interpretação da Psicanálise freudiana.

Com tons terrosos e áridos, que remetem à morte, Dalí retratou a morte da vaidade, mas uma morte que faz brotar o novo, o belo. Vaidoso como poucos homens públicos de que se tem notícia, e odiado pelos seus contemporâneos exactamente por causa disso, Dalí pode ter retratado nesta obra a morte de seu próprio ego. No entanto, essa morte é apenas aparente, porque é da mente desse ego que nasce a vida, que surge a criação. E foi graças a essa egolatria exacerbada que, em vez de se recolher ao próprio talento, como tantos artistas o fazem, Dalí conseguiu mostrar-se ao mundo dessa maneira gratamente irreversível, quase como uma missão de dividir conosco, pobres mortais, um pouco de sua genialidade.

Juliana Nunes

Narciso

A lenda de Narciso, surgida provavelmente da superstição grega segundo a qual contemplar a própria imagem prenunciava má sorte, possui um simbolismo que fez dela uma das mais duradouras da mitologia grega. Narciso era um jovem de singular beleza, filho do deus-rio Cefiso e da ninfa Liríope. No dia de seu nascimento, o adivinho Tirésias vaticinou que Narciso teria vida longa desde que jamais contemplasse a própria figura. Indiferente aos sentimentos alheios, Narciso desprezou o amor da ninfa Eco - segundo outras fontes, do jovem Amantis - e o seu egoísmo provocou o castigo dos deuses. Ao observar o reflexo de seu rosto nas águas de uma fonte, apaixonou-se pela própria imagem e ficou a contemplá-la até consumir-se. A flor conhecida pelo nome de Narciso nasceu, então, no lugar onde morrera. Noutra versão da lenda, Narciso contemplava a própria imagem para recordar os traços da irmã gémea, morta tragicamente. Foi, no entanto, a versão tradicional, reproduzida no essencial por Ovídio em Metamorfoses, que se transmitiu à cultura ocidental por intermédio dos autores renascentistas. Na psiquiatria e particularmente na psicanálise, o termo narcisismo designa a condição mórbida do indivíduo que tem interesse exagerado pelo próprio corpo.
P.S.: alguém sabe quem é o autor deste quadro?? Eu gostava de saber...

Sunday, October 08, 2006

Arte moderna

Esta é dedicada ao meu amigo animal2. Imediato, óbvio e sem texto (6).

Sabiam?

Recebi hoje a história do arroba por e-mail, que passo a partilhar (oh, não!! Mais um post gigante!! já ninguém aguenta tanta palavra junta!!):
Na idade média os livros eram escritos pelos copistas à mão. Precursores da taquigrafia, os copistas simplificavam o trabalho substituindo letras, palavras e nomes próprios, por símbolos, sinais e abreviaturas. Não era por economia de esforço nem para o trabalho ser mais rápido (tempo era o que não faltava naquele tempo). O motivo era de ordem económica : tinta e papel eram valiosíssimos. Foi assim que surgiu o til (~), para substituir uma letra (um "m" ou um "n") que nasalizava a vogal anterior. Um til é um ene sobre a letra. O nome espanhol Francisco, que também era grafado "Phrancisco", ficou com a abreviatura "Phco." e "Pco". Daí foi fácil Francisco ganhar em espanhol o apelido Paco. Os santos, ao serem citados pelos copistas, eram identificados por uma acção significativa das suas vidas. Assim, o nome de São José aparecia seguido de "Jesus Christi Pater Putativus", ou seja, o pai putativo (suposto) de Jesus Cristo. Mais tarde os copistas passaram a adoptar a abreviatura "JHS PP" e depois "PP". A pronúncia dessas letras em sequência explica porque José em espanhol tem o apelido de Pepe. Já para substituir a palavra latina "et" (e), os copistas criaram um símbolo que é o resultado do entrelaçamento dessas duas letras : &. Esse sinal é popularmente conhecido como "É comercial" e em inglês, tem o nome de ampersand, que vem do "and" (e em inglês) + "per se" (do latim por si) + "and". Com o mesmo recurso do entrelaçamento das letras, os copistas criaram o símbolo @ para substituir a preposição latina "ad", que tinha, entre outros, o sentido de "casa de". Veio a imprensa, foram-se os copistas, mas os símbolos @ e & continuaram a ser usados nos livros de contabilidade. O @ aparecia entre o número de unidades da mercadoria e o preço; por exemplo: o registo contabilístico "10@£3" significava "10 unidades ao preço de 3 libras cada uma". Nessa época o símbolo @ em inglês já ficou conhecido como "at" (a ou em). No século XIX, nos portos da Catalunha (nordeste da Espanha), o comércio e a indústria procuravam imitar práticas comerciais e contabilísticas dos ingleses. Como os espanhóis desconheciam o sentido que os ingleses atribuíam ao símbolo @ (a ou em), acharam que o símbolo seria uma unidade de peso. Para o entendimento contribuíram duas coincidências:
a unidade de peso comum para os espanhóis na época era a arroba, cujo "a" inicial lembra a forma do símbolo;
os carregamentos desembarcados vinham frequentemente em fardos de uma arroba. Dessa forma, os espanhóis interpretavam aquele mesmo registo de "10@£3" assim: "dez arrobas a 3 libras cada uma". Então o símbolo @ passou a ser usado pelos espanhóis para significar arroba.Arroba veio do árabe ar-ruba, que significa "a quarta parte" : arroba (15 kg em números redondos) correspondia a Œ de outra medida de origem árabe (quintar), o quintal (58,75 kg). As máquinas de escrever, na sua forma definitiva, começaram a ser comercializadas em 1874, nos Estados Unidos ( Mark Twain foi o primeiro autor a apresentar os seus originais dactilografados). O teclado tinha o símbolo "@", que sobreviveu até aos teclados dos computadores. Em 1972, ao desenvolver o primeiro programa de correio electrónico (e-mail), Roy Tomlinson aproveitou o símbolo "@" (at), disponível no teclado, e utilizou-o entre o nome do usuário e o nome do provedor. Assim "Fulano@PX" passou a significar "Fulano no provedor X". Em diversos idiomas, o símbolo "@" ficou com o nome de alguma coisa parecida com a sua forma: em italiano chiocciola (caracol), em sueco snabel (tromba de elefante), em holandês, apestaart (rabo de macaco); em outros idiomas, tem o nome de um doce em forma circular: shtrudel, em Israel, strudel, na Áustria;

Imperatriz

Esta é a história da mulher que, no século VII, em plena dinastia Tang, se tornou Imperatriz Suprema da China, desafiando o poder dos homens e os tabus de toda uma época. Escolhida aos 13 anos para servir de concubina na Cidade Proibida, acabaria por marcar o seu tempo de forma fulgurante. Passou pela guerra e pela fome, conheceu as conspirações e as traições, tudo viveu e a tudo sobreviveu. Aos 29 anos, recebeu o título de Imperatriz, tomando o lugar do Imperador na alvorada dos 50. Com ela, e através, a China viveu um dos períodos mais esplendorosos da sua civilização.
Cada momento é especial, descrito de forma demorada e bela:
Certa noite, um sobressalto. As águas fervilhavam. Vagas furiosas esmagavam-se sobre mim. Encolhida, lutava contra o medo concentrando-me na minha respiração, no espasmo da minha dor. O rebentamento da maré atira-me para uma estreita embocadura. Deslizo por entre os rochedos. O meu corpo sangrava. A minha pele rasgava-se. A minha cabeça implodia. Cerrava os punhos para não gritar.
Alguém me puxa pelos pés e me bate nas coxas. De cabeça para baixo, vomito o meu choro. Envolvem-me no tecido que me arranha. Oiço a voz ansiosa de um homem: " É rapaz ou rapariga?".
Ninguém responde. O homem aproxima-se de mim e tenta rasgar-me o cueiro. É interrompido pelos gemidos de uma mulher:
- Outra rapariga, Senhor.
- Ah! - exclama, antes de se desfazer em lágrimas.
Quem lê o início, não pode antever o quão erótico o livro se pode tornar mais à frente ;)

Saturday, October 07, 2006

Ensaio Sobre A Cegueira

Este livro deixa-nos colados à cadeira, petrificados, de lágrima no canto do olho. É lindo e terrível. São trezentas e tal páginas de tortura e sofrimento. O romance conta a história de uma praga de cegueira, inexplicável e incurável, que começa num homem sentado no trânsito e, lentamente, se espalha pelo país. À medida que os afectados pela epidemia são colocados em quarentena, em condições desumanas, e os serviços civis começam a falhar, a história segue a mulher de um médico, a única pessoa que não é afectada pela doença que cega todos os outros. O romance mostra-nos o desmoronar completo da sociedade que, por causa da cegueira, perde tudo aquilo que considera como civilização e, (tal como em A Peste, de Albert Camus) mais que comentar as facetas básicas da natureza humana à medida que elas emergem numa crise de epidemia, Ensaio sobre a cegueira mostra a profunda humanidade dos que são obrigados a confiar uns nos outros quando os seus sentidos físicos os deixam. O brilho branco da cegueira ilumina as percepções das personagens principais, e a história torna-se não só um registo da sobrevivência física das multidões cegas, mas também das suas vidas espirituais e da dignidade que tentam manter.
Na contracapa, Saramago escreveu: "Se puderes olhar, vê. Se podes ver, repara." (Livro dos conselhos)

Evangelho Segundo Jesus Cristo

Saramago nunca foi fácil, mas este livro não é para toda a gente. O romance conta a história da vida de Jesus de uma maneira moderna e não-religiosa. O seu conteúdo, que humaniza a vida de Jesus e alude de forma sub-reptícia a uma sua eventual relação matrimonial - ou no mínimo marital - com Maria Madalena, fez com que muitos considerassem o livro blasfemo. Entre eles, o então secretário de Estado adjunto da Cultura, Sousa Lara, que o vetou de uma lista de romances portugueses candidatos a um prémio literário europeu. Em reacção a este acto censório, Saramago abandonou Portugal, passando a residir até hoje na ilha de Lanzarote, nas Ilhas Canárias.

Jangada de Pedra


Uma série de acontecimentos sobrenaturais culmina na separação da Península Ibérica do continente europeu, que começa a vogar no Atlântico. Num estilo muito pessoal, Saramago tece comentários sobre as grandezas e pequenezas da vida e ironiza sobre as autoridades e os políticos e, talvez muito especialmente, com os actores dos jogos de poder na alta política.

Cisnes Selvagens

Cisnes Selvagens (de Jung Chang) é um relato intenso, feito na primeira pessoa, sobre a vida de três gerações de mulheres (ela, a mãe e a avó), que viveram na China do século vinte.É ao mesmo tempo um livro histórico. Quando a avó da autora nasceu, em 1909, os seus pés foram ligados, num ritual tradicionalmente chinês que usa este método para que os pés das mulheres não se desenvolvam e se tornem pequenos. Com 15 anos foi dada a um general como concubina. A sua filha, De-hong, cresceu na Manchúria sob ocupação japonesa e russa e teve um papel activo, fazendo parte do movimento clandestino comunista. A vitória de Mao Tsé-tung marcou o começo de uma revolução a vários níveis. A partir daí tudo renasce mas nem tudo se altera. Este livro é acima de tudo um importante documento histórico que nos ajuda a conhecer e compreender melhor a cultura chinesa, as suas tradições, e toda a tumultuosa história da China.

Sunday, October 01, 2006

Dia Mundial da Música

1 de Outubro. Dia Mundial da Música.
A música, desde o início de sua história, foi considerada uma prática cultural e humana. Provavelmente, fruto da observação dos sons da natureza, despertou no homem, através do sentido auditivo, a necessidade e vontade de fazê-la. Defini-la não é tarefa fácil porque apesar de ser intuitivamente conhecida por qualquer pessoa, é difícil encontrar um conceito que abarque todos os significados dessa prática. Mais do que qualquer outra manifestação humana, a música contém e manipula o tempo e o som. Talvez por essa razão ela esteja sempre fugindo a qualquer definição, pois ao buscá-la, ela já se modificou, já evoluiu. E esse jogo do tempo é simultaneamente físico e emocional. Uma das maiores dificuldades em definir música tem sido o emprego dessa palavra na descrição de todas as atividades e elementos relacionadas aos sons organizados. Conceitos pré-definidos aplicam-se a práticas exploradas, esquadrinhadas, completamente conhecidas, o que não ocorre na música, que é infinita.
Wikipédia



Arte caseira

O que se obtém quando se juntam 30 amostras de tinta em cartão, uma parede branca, uma tarde de domingo aborrecida (em que fui abandonada por um caniche e uma foca...) e uma mente perturbada (a minha!! :D)? Arte!! ;)

O selo postal português

Em 1 de Julho de 1853 foram colocados à venda os primeiros selos de correio portugueses. Tratava-se dos selos de 5 e 25 reis, com o busto, em perfil, da monarca, D. Maria II, num cunho aberto por Francisco de Borja Freire. O selo de 100 réis foi posto à venda no dia 2 e o de 50 réis só no dia 22 dos mesmos mês e ano.
Portugal tornava-se, assim, no 45.º Estado a adoptar uma reforma postal concebida à semelhança da que tinha sido implementada por Sir Rowland Hill, 13 anos antes, na Grã-Bretanha, ao introduzir, a 6 de Maio de 1840, os primeiros selos postais em circulação no Mundo.A principal reforma consistia no prévio pagamento de um serviço que era encomendado aos correios. Acabava assim a prática de ser o destinatário a pagar um serviço encomendado por outro. A taxa de serviço era igual para todo o país, variando apenas em função do seu peso ou da sua qualidade (impressos, manuscritos, cartas particulares, amostras de fazenda, etc.).
Esse pedaço de papel, com a indicação da franquia paga pelo serviço a prestar era já, então, coleccionado por todo o mundo. Uma nova colecção – a filatelia – começava então, para continuar ainda nos dias de hoje, tornando-se, por ventura, numa das mais antigas e populares actividades lúdicas.
Depressa se tornou impossível a colecção sistemática de todos os selos de um país, quanto mais do mundo. Os chamados selos “clássicos”, grosso modo os que circularam no século XIX, tornaram-se objecto de grande raridade. Algumas administrações postais, a fim de satisfazerem o capricho de um monarca estrangeiro que desejava ter a sua colecção dos selos completa, mandavam reimprimir as séries que já tinham sido retiradas de circulação e que se tinham esgotado, dando assim origem a novas variedades e novas colecções. Aos poucos, o Estado compreendeu o valor cultural que um selo poderia ter e propagandear. Juntamente com os selos base – ou normais –, destinados apenas a satisfazer as necessidades correntes, com tiragens ilimitadas, começaram a aparecer os chamados selos comemorativos, de tiragens limitadas e, inicialmente, com circulação temporal limitada também. Em Portugal, a primeira série comemorativa apareceu em 1894, quando da evocação do 5.º centenário do nascimento do Infante D. Henrique. Mas, se nos primeiros 75 anos de circulação dos selos portugueses, só se emitiram nove séries comemorativas – evocando (para além do Infante D. Henrique) o nascimento de Santo António, o descobrimento do Caminho Marítimo para a Índia, a travessia aérea do Atlântico Sul, o nascimento de Luís de Camões, o nascimento de Camilo Castelo Branco e a Independência de Portugal (três séries) – (a que se poderiam ainda juntar algumas séries de selos de imposto postal: Assistência, Festas da cidade de Lisboa, Padrões da Grande Guerra, monumento ao Marquês de Pombal), depressa se compreendeu o papel divulgador que o selo poderia representar, aproveitando-o o Estado inclusive para fins de propaganda política. Quase todos os acontecimentos importantes ou datas significativas passaram a serem contemplados com a emissão de uma série. Surgiram assim novas formas de colecção – a filatelia temática –, em que o que motiva a colecção não é já o selo, como franquia de pagamento de um serviço, mas sim a mensagem que se nele transmite.
Com o advento dos selos apareceram os carimbos para sua inutilização, dando origem a uma nova colecção sistematizada e especializada – a marcofilia. Os filatelistas criaram ainda colecções de provas e de ensaios de selos, de reimpressões de selos antigos, de pagelas explicativas das diferentes emissões, de envelopes de primeiro dia de circulação, de carimbos comemorativos, de inteiros postais (peças que podem circular sem ser necessário colar nenhum selo – como é o caso dos aerogramas, de bilhetes postais e envelopes já com o selo impresso), de maximafilia (em que se procura a conjugação do motivo do selo, com a imagem de um bilhete postal e de um carimbo relacionado), etc.
Em torno do selo e das colecções por si motivadas produziu-se vasta bibliografia.Começavam, de imediato, as publicações especializadas relacionadas com os selos, dedicadas aos seus coleccionadores. Álbuns e catálogos foram as primeiras, mas produzidos fora das fronteiras nacionais. Foi preciso esperar pelo ano de 1887, para aparecer a primeira publicação periódica portuguesa, O Philatelista, Orgão do Centro Philatelico Portuguez, propriedade de Faustino A. Martins, publicada em Lisboa, com irregularidade, em 4 séries, até Abril de 1896.Alexandre Guedes de Magalhães, em 1951-52, publicou no Mercado Filatélico, n.ºos 50-53, um primeiro “Inventário da bibliografia filatélica portuguesa - Apontamentos” onde se podem testemunhar os avanços da bibliografia relacionada com o selo postal português.Estamos conscientes de que as colecções da Biblioteca Nacional e da Biblioteca da Fundação Portuguesa das Comunicações (Lisboa) estão longe de completas no que se refere à bibliografia produzida durante os 150 anos que decorreram desde o aparecimento do selo postal, em Portugal, e com ele relacionada. As bibliotecas dos Clubes Filatélicos são detentoras de material precioso e raro. Esperamos que sigam o exemplo da Biblioteca Nacional e que produzam inventários das suas colecções para que, num amanhã, seja possível a edição de uma bibliografia mais completa.
João José Alves Dias

Lendas de Portugal

Ao procurar lendas do algarve (a "minha" terra), encontrei este site com lendas de todo o Portugal, que recomendo vivamente: http://lendasdeportugal.no.sapo.pt/distritos/distritos.htm

Lenda da moura Cassima

Esta lenda passa-se em 1149, na véspera da reconquista de Loulé aos Mouros pelo Mestre D. Paio Peres Correia. Loulé estava sob domínio dos mouros e seu governador tinha três belas filhas: Zara, Lídia e Cassima, que era a mais nova. Quando D. Peres se encontrava no exterior da muralhas da cidade pronto para conquistar a cidade, o governador levou as suas filhas até uma fonte onde as encantou, com o objectivo de as preservar de um possível cativeiro. Contudo, o governador nessa noite conseguiu fugir para Tânger, deixando as suas filhas para trás.
Mas este não conseguia viver feliz ao pensar na pouca sorte das suas pobres filhas. Até que num certo dia apareceu em Tânger um carregamento de escravos vindos de Portugal onde se encontrava um homem de Loulé, que o governador não hesitou em comprar.
Já no palacete, o mouro perguntou ao carpinteiro se ele não gostaria de voltar para perto da sua família. Este, sem perder um segundo, disse que sim. Logo o mouro pegou num alguidar cheio de água dizendo ao louletano para ele se colocar de costas para o alguidar e saltar para o outro lado, prevenindo-o que se caísse dentro da água ir-se-ia afogar no oceano. Deu-lhe 3 pães (pães esses que continham a chave para o desencantamento das mouras) e disse-lhe o que fazer com eles a fim de libertar as suas lindas filhas do encantamento a que foram sujeitas. O carpinteiro salta e como num passe de mágica chega a sua casa, abraçando a sua mulher. Logo de seguida ele vai até um canto da casa e esconde os 3 pães dentro de um baú.
Passado algum tempo mulher descobre os pães e fica desconfiada por eles estarem escondidos. Então, pega numa faca a fim de ver se há alguma coisa dentro deles, espetando-a. De imediato ela ouve um grito e as suas mãos enchem-se de sangue vindo do interior do pão.
Na véspera de S. João (dia para o encantamento ser quebrado) o carpinteiro estava indiferente à animação, pois só pensava em cumprir a promessa por ele feita ao ex-governador. Logo que pôde, pegou nos pães e foi até fonte. Chegando a altura certa este atira o 1º pão para a fonte e grita por Zara, a mais velha das irmãs, e uma figura feminina sobe no espaço e desaparece diante dos seus olhos. Logo de seguida atira o 2º e grita por Lídia; volta a aparece-lhe outra bela rapariga, que desaparece no ar diante dele. Por fim, atira o 3º pão e grita pela filha mais nova do ex-governador, mas nada acontece. Ele volta a gritar por Cassima e uma jovem moura aparece-lhe agarrada ao gargalo da fonte e diz-lhe que não pode sair dali devido à curiosidade da sua esposa. Ele pede-lhe desculpa em nome da sua pobre mulher e a moura diz que a perdoa e que tem uma coisa para ela, pois jamais poderá sair daquela fonte, e atira um cinto bordado a ouro para as mãos do carpinteiro, enquanto desaparece no interior da fonte...
No caminho o Carpinteiro, para ver melhor a beleza do cinto, coloca-o em redor de um tronco de um grande carvalho, mas de imediato a árvore cai por terra, cortada pelo cinto fantástico.
Benzendo-se e rezando, o carpinteiro compreende tudo: Cassima dera-lhe o cinto apenas para se vingar! Sua mulher ficaria cortada ao meio, como o carvalho gigantesco!...
Este correu para casa abraçou a mulher e nessa noite não consegui pregar olho com medo que a moura ali aparecesse, mas isso nunca aconteceu. Tal como a moura Cassima lhe dissera, não mais poderia sair da fonte. Apenas por vezes, segundo se diz - principalmente nas vésperas de S. João - ela consegue agarrar-se ao gargalo da fonte, e mostrar sua beleza, e chorar a sua dor aos que se aventuram por até lá....

Lenda dos Corvos de S. Vicente

Em tempos muito antigos, quando o rei Rodrigo perdeu a batalha de Guadalete e os Mouros ocuparam a Península Ibérica e ordenaram que todas as igrejas fossem convertidas em mesquitas muçulmanas, os cristãos de Valência, entre eles um deão (decano), quiseram pôr a salvo o corpo do mártir S. Vicente que estava guardado numa igreja. Com intenção de chegarem às Astúrias por barco, fizeram-se ao mar levando consigo o corpo do santo. Cruzaram o Mediterrâneo sem perigo, mas quando chegaram ao Atlântico o mar estava mais turbulento e foram forçados a aproximar-se da costa. Perguntaram então ao mestre da embarcação qual era aquela terra tão bela e aquele cabo que avistavam. O mestre respondeu-lhes que a terra se chamava Algarve e que o cabo se chamava promontório Sacro. Foi então que os cristãos de Valência consideraram a hipótese de desembarcar, construir um templo em memória de S. Vicente e dar o nome do santo ao cabo mais ocidental, junto ao promontório de Sagres. Mas enquanto estavam nestas considerações, o barco encalhou, o que os forçou a passar ali a noite. Na manhã seguinte, quando se preparavam para retomar viagem, avistaram um navio pirata. O mestre da embarcação propôs-lhes afastar-se com o navio para evitar a abordagem dos corsários, enquanto os cristãos se escondiam na praia com a sua relíquia. Depois viria buscá-los. Mas o barco nunca mais voltou e os cristãos ficaram naquele lugar, construíram o templo em memória de S. Vicente e formaram uma pequena aldeia à sua volta, isolados naquele lugar ermo. Entretanto D. Afonso Henriques entrou em guerra com os mouros do Algarve e estes vingaram-se dos cristãos de S. Vicente, arrasando-lhes a aldeia e levando-os cativos. Passados cinquenta anos um cavaleiro veio avisar D. Afonso Henriques que existiam cativos cristãos entre os prisioneiros feitos numa batalha contra os Mouros. Chamados à presença do rei, o deão, já muito velho, contou-lhe a sua história e confidenciou-lhe que tinham enterrado o corpo de S. Vicente num local secreto. Pedia ao rei que resgatasse o corpo do mártir para um local seguro. D. Afonso Henriques aproveitou um período de tréguas na sua luta contra os Mouros e zarpou num barco com o deão a caminho de S. Vicente. Mas o deão morreu durante a viagem e sem saber o local exacto onde estava enterrado o santo, D. Afonso Henriques aproximou-se do cabo e das ruínas do antigo templo. Foi então que avistou um bando de corvos que sobrevoavam um certo lugar onde os seus homens escavaram e encontraram o sepulcro de S. Vicente, escondido na rocha. Trouxeram o corpo de S. Vicente de barco para Lisboa e durante toda a viagem foram acompanhados por dois corvos, cuja imagem ainda hoje figura nas armas de Lisboa em testemunho desta história extraordinária.

Lenda das Três Gémeas

No tempo em que Silves pertencia aos Mouros, vinha o rei Mohamed a passear a cavalo quando encontrou um destacamento do seu exército que trazia reféns cristãos. Entre estes estava uma lindíssima jovem, sumptuosamente vestida, acompanhada da sua aia, filha de um nobre morto durante o saque ao seu castelo. Mohamed ordenou que a nobre dama fosse levada para o seu castelo, onde a rodeou de todas as atenções, e lhe pediu que abraçasse a fé de Maomé para se tornar sua mulher. A jovem chorou de desespero porque Mohamed não lhe era indiferente, mas a sua aia encontrou a solução: ambas renegariam a fé cristã apenas exteriormente para agradar ao rei mouro e possibilitar o casamento. Passado algum tempo, nasceram três gémeas a quem os astrólogos auspiciaram beleza, bondade e ternura, para além de inteligência, mas avisaram o rei que este deveria vigiá-las quando estas chegassem à idade de casar. O rei não as deveria confiar a ninguém. Passaram alguns anos e a sultana morreu, ficando a aia, que tinha tomado o nome árabe de Cadiga, a tomar conta das jovens. Quando estas eram adolescentes o rei levou-as para um castelo longe de tudo, onde havia apenas o mar por horizonte. As princesas tornaram-se mulheres, mas embora gémeas tinham personalidades muito diferentes. A mais velha era intrépida, curiosa, porte distinto e de olhar insinuante e profundo. A do meio era a mais bela, de uma singular beleza e apreciava tudo o que era belo, as jóias, as flores e os perfumes caros. A mais nova era a mais sensível. Tímida e doce, passava horas a olhar o mar sob o luar prateado ou o pôr-do-sol ardente.
Um dia, contra todas as indicações do rei aportou perto do castelo uma galera com reféns cristãos, entre os quais se salientavam três jovens belos, altivos e bem vestidos. Curiosas, as princesas perguntaram a Cadiga quem eram aqueles homens de aspecto tão diferente dos mouros. Cadiga respondeu-lhes que eram cristãos portugueses e contou às princesas tudo sobre o seu passado. Como as princesas começaram a ficar demasiado interessadas com os jovens cristãos, Cadiga pediu ao rei que levasse as filhas para junto de si, sem lhe explicar a razão. Cavalgavam as princesas com o rei e o seu séquito a caminho de Silves quando se cruzaram com os três cativos cristãos que não respeitaram a ordem de baixarem o olhar. As princesas quando os avistaram levantaram os véus e o rei, furioso, mandou castigar os cristãos insolentes. As princesas ficaram muito tristes mas conseguiram convencer Cadiga a arranjar maneira de se encontrarem com os jovens cristãos. A paixão violenta desencadeada por aquele encontro foi alegria de pouca dura. Os três cristãos foram resgatados pelo rei português e iriam embora em breve. As princesas dispuseram-se a segui-los e a converterem-se à fé cristã antes de casarem com os nobres cristãos. Cadiga rejubilava por conseguir resgatar para a fé que secretamente professava as filhas da sua ama. Foi então que a princesa mais nova se recusou a partir e a abandonar o pai. Ficou para trás e, conta a lenda, morreu de tristeza pouco tempo depois. A sua alma ainda hoje se lamenta e chora na torre do castelo nas noites sem luar.

A Moura do Castelo de Tavira

A noite de S. João é, desde tempos imemoriais, a noite das mouras encantadas. A tradição conta que no castelo de Tavira existe uma moura encantada que todos os anos aparece nessa noite para chorar o seu triste destino. Os mais antigos dizem que essa moura é a filha de Aben-Fabila, o governador mouro da cidade que desapareceu quando Tavira foi conquistada pelos cristãos, depois de encantar a sua filha. A intenção do mouro era voltar a reconquistar a cidade e assim resgatar a infeliz filha, mas nunca o conseguiu. Existe uma lenda que conta a história de uma grande paixão de um cavaleiro cristão, D. Ramiro, pela moura encantada. Foi precisamente numa noite de S. João que tudo aconteceu. Quando D. Ramiro avistou a moura nas ameias do castelo, impressionou-o tanto a sua extrema beleza como a infelicidade da sua condição. Perdidamente enamorado, resolveu subir ao castelo para a desencantar. A subida através dos muros da fortaleza não se revelou tarefa fácil e demorou tanto a subir que, entretanto, amanheceu e assim passou a hora de se poder realizar o desencanto. Diz o povo que a moura, mal rompeu a aurora, entrou em lágrimas para a nuvem que pairava por cima do castelo, enquanto D. Ramiro assistia sem nada poder fazer. A frustração do jovem cavaleiro foi tão grande que este se empenhou com grande fúria nas batalhas contra os Mouros. Conquistou, ao que dizem, um castelo, mas ficou sem moura para amar...

Algôs ou Algoz

A origem do nome da povoação de Algôs, e a sua respectiva grafia, divide as opiniões dos seus habitantes. Uns afirmam que o nome desta povoação, que já existia no tempo dos romanos, lhe foi atribuído por D. Fernando I, rei de Leão, quando ali passou a caminho de Silves. Um dos seus homens achou a povoação tão insignificante que nem valeria a pena que nela se demorassem, ao que o rei retorquiu: "Algo es!". E assim se ficou a chamar Algoes e depois Algôs.
Mas outros defendem a pés juntos uma outra versão. Quando a povoação era tão pequena que ainda não tinha nome, os seus habitantes não sabendo como lhe chamar resolveram fazer uma procissão para que Deus lhes desse inspiração. Como a imagem do santo que levavam no andor era do tamanho de um homem, houve uma vereda cujas árvores impediam a respectiva passagem. O dono das árvores opôs-se a que estas fossem cortadas. A discussão instalou-se e o pároco, para evitar confrontos, resolveu cortar a cabeça da imagem do santo para que a procissão prosseguisse. A população enfurecida contra o pároco resolveu chamar àquela povoação Algoz, que quer dizer carrasco, para que a ofensa contra o santo ficasse para sempre registada.

Lenda do Almocreve de Estói


O almocreve José Coimbra, conhecido também por Ti Zé da Serra, percorria habitualmente, com o seu burrinho, os caminhos do Algarve. Um dia ao passar junto das ruínas de Milreu, perto de Estói, encontrou uma bela moura encantada vestida com um manto de princesa que lhe sorriu. Fascinado, seguiu a moura até que ela chegou a um sítio onde bateu com o pé no chão três vezes e um alçapão se abriu. Desceram ambos por uma escadaria de mármore até uma sala enorme revestida a ouro onde a moura o deixou só por um instante antes de surgir acompanhada por um leão e uma serpente, seus irmãos encantados. A bela moura prometeu-lhe o palácio e todo o seu ouro se ele quebrasse o encanto: teria que ser três vezes engolido e vomitado pelo leão e três vezes abraçado pela serpente. O corpo do almocreve ficaria em chaga e finalmente a moura o beijaria na fronte para lhe retirar os santos óleos do baptismo. O almocreve pediu-lhe para pensar e a moura deixou-o partir com duas barras de ouro. José Coimbra voltou para casa e tentou esquecer o episódio, mas passado pouco tempo começou a empobrecer, ficando na mais absoluta miséria. Decidiu então vender as duas barras de ouro que tinha escondido, mas quando as olhou logo ficou cego. Como última esperança, resolveu consultar um especialista de olhos em Faro. Ao passar por Estói, apareceu-lhe a moura que o acusou de ter faltado à promessa de lhe dar uma resposta. A moura só lhe tinha poupado a vida porque ele nunca tinha revelado o segredo daquele encontro. O almocreve chorou sinceras lágrimas de arrependimento, comovendo a moura que decidiu perdoar-lhe e devolver-lhe a visão. Conta-se que o almocreve nunca mais voltou a passar por Estói, onde ainda hoje uma moura e os seus irmãos esperam por quem os queira desencantar.

Lenda de Dona Branca ou da Tomada de Silves aos Mouros



Reinava em Silves o inteligente e corajoso rei mouro Ben-Afan que numa noite de tempestade, no intervalo das suas lutas contra os cristãos, teve um sonho extraordinário. Um sonho que começou por ser um pesadelo, com tempestades e vampiros, mas que se tornou numa visão de anjos, música e perfumes e terminou pelo rosto de uma mulher, divinamente bela, com uma cruz ao peito. No dia seguinte, Ben-Afan procurou a fada Alina, sua conselheira, que lhe revelou que tinha sido ela própria a enviar-lhe o sonho e que a sua vida iria mudar. Deu-lhe então dois ramos, um de flor de murta e outro de louro, significando respectivamente o amor e a glória. Consoante os ramos murchassem ou florissem assim o rei deveria seguir as respectivas indicações. Enviou-o ao Mosteiro de Lorvão e disse-lhe que lá o esperava aquela que o amor tinha escolhido para sua companheira: Branca, princesa de Portugal. Para entrar no mosteiro, Ben-Afan disfarçou-se de eremita e o primeiro olhar que trocou com a princesa uniu-os para sempre. O rei mouro voltou ao seu castelo e preparou os seus guerreiros para o rapto da princesa. Branca de Portugal e Ben-Afan viveram a sua paixão sem limites, esquecidos do mundo e do tempo. O ramo de murta mantinha-se viçoso, até que um dia D. Afonso III, pai de Branca, cercou a cidade de Silves e Ben-Afan morreu com glória na batalha que se seguiu. Nas suas mãos foram encontrados um ramo de murta murcho e um ramo de louro viçoso.

Lenda do Manto de Santo António

À entrada da vila de Monchique existe uma imagem de Santo António com um manto azul bordado a ouro que lhe foi oferecido por uma jovem em agradecimento por o santo lhe ter arranjado casamento. Mas a verdade é que este casamento não foi tão feliz como a jovem esperava. O marido tratava-a mal apesar da gravidez anunciada da mulher. Nasceu uma filha que cresceu entre discussões azedas até que aos oito anos a menina decidiu apelar para a bondade de Santo António pôr termo a tamanho martírio. Ajoelhou-se junto à sua imagem e prometendo-lhe que nunca lhe faltariam flores, a menina sentiu após algumas horas que alguém lhe batia no ombro. Um homem estranho e atraente perguntou-lhe porque estava ali e pediu-lhe algo para comer e um sítio para descansar. A menina levou-o para sua casa e enquanto que a mãe acolheu o visitante o pai resmungou pelo atrevimento da filha. O visitante dirigiu-lhe frases apaziguadoras, alertando-o para o facto de que estava a desperdiçar uma felicidade que estava perfeitamente ao seu alcance: a de viver em harmonia com a sua mulher e a sua filha. Como que encantado pelas palavras do visitante, o homem ajudou pela primeira vez a sua mulher a preparar a refeição e sentiu que iniciava nesse instante uma vida nova. Quando voltaram à sala, o estranho homem tinha desaparecido e no seu lugar estava uma pequena imagem de Santo António, semelhante à que se encontrava no nicho da vila. A notícia do milagre correu a aldeia e a partir daquele dia aquela casa encheu-se de felicidade e ao santo nunca mais faltaram as flores.